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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O "adeus"de Teresa - Castro Alves

A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus…
E amamos juntos… E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala…

E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”

Uma noite… entreabriu-se um reposteiro…
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus…
Era eu… Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa…

E ela entre beijos murmurou-me “adeus!”

Passaram tempos… sec’los de delírio
Prazeres divinais… gozos do Empíreo…
… Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — “Voltarei!… descansa!…”
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei… era o palácio em festa!…
E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!… Ela me olhou branca… surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!…

E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

Vocabulário
Co’a: com a.
Reposteiro: cortina.
Alcova: quarto.
Sec’los: séculos.
Empíreo: morada dos deuses, segundo a mitologia grega.
Volvi: voltei.
Era: estava
Arquejar: arfar; estar ofegante.

Antonio Frederico Castro Alves nasceu em Curralinho, na Bahia, em 1847. Filho de médico, fez seus estudos secundários no Ginásio Baiano de Abílio César Borges. Cursou Direito em Recife e São Paulo, onde suas ideias de liberdade tomaram consciência. Vítima de um acidente de caça, sofreu amputação num pé. Depois, atacado de tuberculose, morreu em pleno fulgor da vida e da carreira, em 1871, em Salvador.

Castro Alves, através de sua eloquente poética, destacou-se como:

a) Poeta social – intérprete da liberdade, da justiça e do progresso. Defendeu sobretudo os escravos, como em Vozes d'Africa , Navio negreiro, A mãe do cativo, A cruz da estrada, A canção do africano e Saudação a Palmares, entre outros poemas.

A poesia, até então expressão subjetiva de um sentimentalismo exacerbado, torna-se, com Castro Alves, o instrumento de uma causa social (a libertação dos escravos) e faz com que o poeta assuma para si a tarefa de denunciar, a seus leitores, as injustiças que percebe na sociedade:

Na Senzala, úmida, estreita,
Brilha a chama da candeia,
No sapé se esgueira o vento.
E a luz da fogueira ateia.
Junto ao fogo, uma africana,
Sentada, o filho embalando,
Vai lentamente cantando
Uma tirana indolente,
Repassada de aflição.

b) Poeta lírico-amoroso – sem o sentimentalismo dos poetas do “mal do século”, escreveu inspirado em sua vivência amorosa (como com Idalina, sua primeira amante, ou com Eugênia Câmara, atriz portuguesa quarentona, grande paixão do poeta). É esse essencialmente o caráter de Espumas flutuantes, único livro que publicou em vida.

O amor idealizado, cuja concretização era impossível, e que só se imaginava em cenários oníricos não faz parte da poesia de Castro Alves. Nela, o que identificamos são relacionamentos reais, que tematizam muitas vezes a dificuldade encontrada pelos amantes para se separarem após uma noite de amor:

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio...
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

c) Poeta da natureza – pintando e cantando a paisagem brasileira, como em A cachoeira de Paulo Afonso. O gosto pelos passeios a cavalo e pelas caçadas na mata reflete-se na poesia descritiva da natureza:

O Poeta trabalha!... A fonte pálida
Guarda talvez fatídica tristeza...
Que importa? A inspiração lhe acende o verso
Tendo por musa – o amor e a natureza!

Em todos os aspectos, Castro Alves usou versos inflamados, ousadas metáforas, hipérboles e apóstrofes, com muita arte e expressividade.



Comentários sobre o poema
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“O adeus de Tereza” é constituído por quatro estrofes de cinco versos, separadas por um só verso (monóstico). Possui métrica regular em decassílabos e apresenta rimas do tipo emparelhadas (1.º e 2.º, 4.º e 5.º versos) e rimas do tipo interpoladas (3.º e 6.º versos).

Perceba que o poema apresenta afinidades com a produção lírico-amorosa do ultrarromantismo, como se vê pela utilização da natureza para expressar os sentimentos, pela visão idealizada do amor e da mulher, pela linguagem exclamativa e repleta de adjetivos etc. Entretanto, lendo-o com atenção podemos perceber que aqui o amor e a mulher adquirem maior concretude e veracidade, tornando-se, portanto menos fantasistas e puramente imaginários.


No texto, há forte presença de cromatismo como recurso expressivo: a cor vermelha e a cor branca estão associadas, respectivamente, com os temas do encontro e do desencontro amoroso. Observe, ainda, como se organiza o enredo do poema: a primeira e a última cena se aproximam, na medida em que têm um baile por cenário; entretanto, enquanto na cena inicial o sujeito poético e sua amada dançam, na final ele a surpreende com outro homem.


Na primeira estrofe, o eu lírico narra seu primeiro encontro com Teresa ( o contato físico se dá através da valsa). Encontramos uma atmosfera de paixão e arroubo que os envolveu e o início da relação amorosa. A busca de paralelos entre sentimentos e aspectos da natureza está presente no verso “Como as plantas que arrasta a correnteza” (hipérbato).


Na segunda estrofe, o eu lírico revela a concretização do amor entre os dois (mostra-nos o momento em que, saindo do quarto da amante, dela se despede entre beijos). Há a descrição de ambos na alcova, espaço frequentado somente por um homem que desfrutasse da intimidade de uma mulher no século XIX. O verso “Inda beijando uma mulher sem véus...” revela a ausência da pureza por parte da figura feminina.


Na terceira estrofe, assiste-se a dolorosa separação dos amantes. O eu lírico, embora tendo que partir, pede (implicitamente) que a amada o espere: “Partindo eu disse –“ voltarei... descansa!...”. A intensidade da relação amorosa havida entre os dois pode ser contemplada através de três hipérboles: sec’los de delírio, “prazeres divinais”, “ gozo do Empíreo”.

A última estrofe surpreende o leitor ao apresentar Teresa nos braços de outro homem, marcando a desilusão final do eu lírico(o verso “Foi a última vez que eu vi Teresa!...” estabelece a separação definitiva). Note que a imagem construída de amante ardorosa e devotada, subitamente, transfigura-se na de uma mulher vulgar, volúvel e indigna.

Além da sensualidade que percorre todo o poema, podemos destacar cinco campos lexicais: o prazer (prazeres, gozos, empíreo, delírios, festa); as reações emotivas (corando, soluços, arquejando, tremer, surpresa); o espaço físico (alcova, reposteiro, sala, lares, palácio)e o tempo (séculos, arrasta a correnteza).